Nem pensei duas vezes em mandar o meu testemunho para esta Corrente Positiva, porque acredito que “partilhando vai-se ajudando”.
Tudo começou quando eu tinha 16 anos.
Era jogador de andebol federado e a minha vida era o desporto e também as miúdas! Herdei do meu pai o lado engatatão e achava que conquistava até a Cindy Crawford se quisesse! Com 16 anos somos tão ingénuos!
Depois dos treinos tomava banho e ia sempre para casa relaxar porque ficava muito cansado.
Já tinha sentido um alto, uma coisa estranha no meu testículo.
Mas com tanta bolada que levei só pensava nisso e depois também não iria falar nisto com ninguém.
Muito menos com a minha namorada que tinha na altura.
Então não falei com ninguém mas também não me esqueci daquele alto.
Andei semanas ou meses a sentir…
Cheguei a pensar que seria porque tinha começado a namorar há pouco tempo e passava muito tempo “animado”.
Então as pesquisas no Google aumentaram.
Até que houve um dia que falei com a minha mãe.
“Tenho uma cena estranha aqui em baixo ao pé do coiso”
Eu nem sequer conseguia dizer testículos quanto mais falar nisso abertamente.
E a minha mãe ficou logo em pânico a dizer que tínhamos que ir ao médico.
Eu só queria que ela me dissesse para por uma pomada e acabo com ela ao telefone a marcar uma consulta para 3 dias depois.
“Baixa as calças e mostra lá o que se passa.”
Eu tinha 16 anos, não é fácil ter esta destreza em frente a um médico, ao menos fosse uma médica gira e nova. Aos 16 anos somos mesmos parvos, porque eu pensei isso, longe de imaginar o que me esperava.
Nessa consulta depois de ser examinado foram-me pedidos vários exames e fizeram-me imensas perguntas.
Sai de lá meio confuso a tentar disfarçar com sentido de humor, mas a minha mãe estava em pânico e eu nunca me passou pela cabeça que poderia ter o que ela pensou logo no primeiro momento que lhe disse que tinha uma “cena no coiso”.
Fiquei inquieto e nessa noite mal dormi, mas não me lembro em que pensei.
Os dias seguintes foram reservados para exames, até que no sábado acordo de madrugada com uma dor terrível na zona dos rins.
A minha mãe levou-me para as urgências, porque eu gritava de dores.
Não me lembro bem desse dia porque com as dores e com os medicamentos fortes parece que entre adormecer e alucinar pouco me lembro.
Na 2ªfeira fui transferido para outro hospital, sozinho na ambulância.
Não quis dar a parte fraca, mas onde estava a minha mãe??
Já lá estava. Naquele que iria ser o meu hospital, a minha nova casa nos próximos tempos.
Estava tranquila e estranhamente serena.
“Está tudo bem mãe?”
Ela disse que sim. Então se estava porque eu estava a ir para outro hospital em vez de ir para casa?
Os rins até já me doíam menos…
E eu tinha que resolver a questão do “coiso”, os exames irão ficar prontos essa semana.
Nessa altura a minha mãe já sabia de tudo, já tinha chorado e desesperado.
Estava a fazer-se de forte e preparada para me dar apoio.
“Rapaz, nos próximos tempos vais ter que deixar o andebol de lado e dizer à namorada que vais passar uns tempos aqui pode ser?”
Nunca tinha visto aquele médico na vida e ele já me estava a mandar parar as duas coisas que mais gostava de fazer.
E daí a pouco menos de uma hora já me explicaram o que se passava.
As minhas dores de rins tinham a ver com o meu testículo.
As análises ao sangue estavam comprometidas e iria ter que fazer mais biopsias e exames.
O diagnóstico estava praticamente certo.
“Há fortes possibilidades de teres desenvolvido um cancro no testículo esquerdo.”
Eu ter desenvolvido o quê????
Eu tenho 16 anos e não desenvolvi nada.
Levantei-me e quis sair dali.
A minha mãe acalmou-me e obrigou-me a ser um homenzinho.
Ouvi tudo, disse que estava pronto para os exames e preparado para o pior.
Nem cinco segundos depois de dizer que estava preparado, desatei num pranto a chorar no ombro da minha mãe.
Tive uns 10 minutos a dizer:
“Posso morrer! Posso morrer! Posso morrer!”
Passados uns dias, sim era cancro e tinha um plano traçado que poderia envolver: quimioterapia, radioterapia e cirurgia.
Fiz tudo o que tinha direito e até ganhei um testículo de silicone!
Foram 6 meses intensos.
Quando acabei continuei com 16 anos mas muito diferentes do que tinha quando iniciei esta caminhada.
Aprendi que apesar de lutas difíceis temos que nos concentrar no que é importante.
E que não há impossíveis.
Não digo que não foi difícil porque foi. Tinha vergonha de dizer que tinha cancro e quanto mais no “coiso”.
Mentia às pessoas, evitava telefonemas e dizia à minha mãe para dizer apenas: “Ele está doente mas vai ficar bem.”
Levei algum tempo para ganhar coragem no alto dos meus 16 anos para dizer que tinha cancro no testículo.
Tive tratamentos muito duros e psicologicamente vivi grandes pesadelos, a maioria em silêncio.
A minha mãe esteve lá sempre comigo, de sorriso na cara e acreditar sempre.
Quis escrever este testemunho porque não devemos ter vergonha de dizer nem a palavra cancro nem a palavra testículo.
E também para vos dizer que não façam como eu, assim que sentirem uma anormalidade no testículo consultem um urologista, o processo quando apanhado ao inicio é muito simples.
Hoje tenho 26 anos, já se passam 10 desde o diagnóstico e estou bem!
Já não jogo andebol, nem tenho a mesma namorada mas sou um homem extremamente feliz!
Acreditem! Lutem!
Chamo-me Henrique, tenho 26 anos e sou de Lisboa.
Nota: Fotografia meramente ilustrativa.
Fonte: Snapwire
Parabéns Henrique pela força, resiliência e exemplo de vida!
Pelo ” dar a cara” e partilhar a tua história. O mundo precisa de pessoas assim. Que sabem do que falam e do que sentem.
O Fabuloso destino de Maria Amelia, para mim, é isto tudo. Não baixar os braços, dar inspiração uns aos outros.
Afinal, quer queiramos quer não estamos todos ligamos uns aos outros.
Um grande beijinho
Obrigada querida Inês <3
São pessoas como tu que me fazem continuar a acreditar que tudo vale a pena!
Beijinho grande no coração <3
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