Começo por dizer que a história acaba bem mas que foi um percurso cheio de medos e angústias com poucos actos heróicos.
Não sou aquela pessoa de força, desde pequena que fui protegida pelos meus pais e avós e raramente tinha que enfrentar problemas.
Eles foram-me poupando de muitas coisas e vivi quase à margem do que é a vida real.
Acabei o curso, casei e tive o meu filho. O Rodrigo.
Tudo perfeito, tudo perfeito até aos 6 meses do Rodrigo.
Ele fazia febres constantes e estava sempre muito irritado.
Eu não tenho irmãos nunca tinha convivido com nenhuma criança, estava sempre desesperada e a caminho do hospital.
Já me conheciam pela mãe chata, já não me davam importância. Foram noites seguidas a caminho das urgências e voltava sempre de lá sem respostas.
Recorri à minha ajuda de sempre –os meus pais- porque estava desesperada e com medo de estar a falhar. O bebé estava num desespero e cada vez mais prostrado. Levaram-nos a um médico que eles conheciam.
Desde esse dia até ao dia em que sou que o meu filho tinha uma leucemia foi um piscar de olhos. Lembro-me de pouca coisa dessa fase, parece que fiquei anestesiada durante algum tempo.
Quando percebi, tinha um bebé pequeno muito doente no colo que dependia totalmente de mim e da força que eu julgava não ter.
Eu mal me conseguia levantar da cama quando ficava constipada, como é que de repente tinha tanta coisa para resolver…
Passou-me tudo pela cabeça. Cheguei a ser cobarde ao ponto de querer acabar com a minha vida com medo de não ser capaz. Com medo de falhar ao meu filho. Com medo de não o conseguir ajudar.
Nessa noite enquanto o embalava, já no hospital, prometi-lhe que iria dar o peito às balas por ele. Prometi-lhe que os impossíveis iam ser possíveis.
Em dias tudo mudou. Tive que me mudar para o hospital, deixei o meu emprego, a minha vida, a minha casa e fiquei a 100% com o Rodrigo.
Comecei constantemente a ouvir termos que desconhecia e rapidamente passei a usá-los como se toda a vida os conhecesse, como quimioterapia, hemoglobina, transfusões e por ai fora.
Mergulhei na vida do meu filho e no estado de saúde dele e estudei tudo o que podia para dominar tudo sobre a doença dele e os tratamentos possíveis.
Existiram dias complicadíssimos, dias quase sem retorno.
Dias que parecia que estava no inferno.
O Rodrigo esteve isolado bastantes vezes.
Eram dados 2 passos para a frente e 4 para trás.
Eu não quero desmoralizar ninguém que esteja a ler o meu testemunho, quero precisamente o contrário, quero partilhar que passei muitos maus bocados mas que estamos cá inteiros e felizes!
Pelo caminho ficaram muitas coisas. Ficaram sonhos. Ficaram momentos que não foram vividos. Ficaram visitas ao Zoo com o Rodrigo que não foram feitas. Ficaram “caças aos ovos” na casa da Avó Zulmira que não aconteceram. Ficaram Natais incompletos. Ficaram 3 anos, 5 meses, 6 dias de hospital. E ficamos só os dois.
Mas aquilo que vivemos supera tudo. A cumplicidade, o amor, a aprendizagem.
O meu filho ensinou-me a ser mais e melhor. Ensinou-me o amor puro.
Depois de recaídas e retrocessos constantes, quando recebi a notícia que finalmente estava tudo bem, tudo controlado, chorei mais do que durante os 3 anos de hospital.
Hoje o Rodrigo tem 8 anos. É um reguila, um mimado. É o meu filho querido e o meu melhor amigo. Já fomos ao Zoo muitas vezes, caçámos os ovos todos na Avó Zulmira e não há Natal nenhum que o Avó Zé não deixe crescer as barbas brancas.
Não sei onde fui buscar as minhas forças, mas não o desiludi. Não falhei!
Nota: Fotografia meramente ilustrativa.
Créditos da fotografia: Pixabay
Corrente Positiva:
Testemunhos reais de pessoas que inspiram
Testemunho | Pedro, o Ironman
Testemunho | Afinal eu venci o cancro e todos os dias faço questão de esfregar o meu sorriso na ‘cara’ dele
Testemunho | Sou uma mulher inteira, porque o cancro não me levou nada que eu não tivesse deixado
Testemunho | E como a intuição de Mãe nunca falha, também esta grande luta foi vencida
Testemunho | Não devemos ter vergonha de dizer a palavra cancro
Testemunho | Só venci isto, porque nós as duas somos a equipa perfeita!
Emocionante demais. A força de uma mãe na forma de uma post. Lindo. <3
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