Perder a noção deve estar na moda

Confesso que às vezes sou das pessoas que acha graça quando vê alguém que perde a noção.

Por exemplo, a noção do ridículo.

Prefiro achar-lhe graça, do que chatear-me.

Mas, também confesso que paciência não é, nem nunca será, o meu ponto forte e há alturas em que o melhor remédio seriam mesmo três galhetas bem dadas, mas como isto não é a república das bananas, conto convosco desse lado para me aturarem neste desabafo.

Já tinha escrito aqui o que sinto pelas pessoas que vão martelar dentes, ou seja, comer pipocas desesperadamente para o cinema.

E até já tirei algumas conclusões sobre isso que um dia, partilharei convosco.

Porque hoje, o desabafo é outro.

Estava eu no cinema, agarrada ao meu pacote de lenços de papel a ver o Manchester By The Sea (que falei aqui), numa sala que estava cheia.

De um lado tinha uma senhora, na casa dos 60 e qualquer coisa. Começou o filme a pedir emprestado às amigas os óculos delas de ver ao longe. Depois de enfiar 2 pares de uma vez, disse que, mesmo, assim via mal. Passou a primeira metade do filme a perguntar à amiga do lado que devia ser surda como um penedo:

“O que ele disse? Não consegui ler…”

Do outro lado, um casal. Ela uma verdadeira SMD, que é como quem diz social media dependent, ou seja, uma pessoa que se larga o Facebook e acontece exactamete o mesmo às pessoas que estão ligados ao oxigénio e alguém lhes desliga aquilo. Antes de começar o filme, fotografias à tela. Fotografias às pipocas. Selfies na cadeira. Selfies com a boca nas pipocas, como se fosse um xarroco.

Ele chega uns 15 minutos depois do filme ter começado apetrechado de comida, como se fosse ver 15 temporadas da Anatomia de Grey… ele era nugets, batatinhas fritas, uma tarde de maçã. Tudo isto powered by McDonalds, assim como o cheiro. Estão a perceber certo?

“Olha a Tânia fez-me um like!”

Disse-lhe ela com um ar tão feliz que até eu fiquei aos saltos de alegria.

Mas ele, foda-se… ele comia à séria. Como se a greve de fome de 15 dias tivesse terminado há segundos atrás.

Intervalo.

“Olha, já que não vejo bem, ao menos adocico a alma.”

Era ela. A senhora do meu lado direito com um saco da Hussel cheio de chocolatinhos de todas as cores. E pelo barulho, bem duros por sinal.

Do lado esquerdo, renovaram o stock das pipocas. Ele ficou-se por devorar uns malteses e M&M.

O telemóvel dela tocou apenas duas vezes. Com som. Parecia um música da Rihanna, não tenho a certeza. Atendeu ambas as vezes, tranquila, como se tivesse num café.

Quando o filme acabou. As luzes acenderam.

Aquele chão à minha volta fez-me lembrar quando os festivais acabam e a putaria está armada naquele chão.

E é isto.

A falta de noção.

E três galhetas bem aviadas é que era!

 

Créditos da fotografia: Tookapic

 

 

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