Entrevista: Vanessa Afonso

Maio é mês do Amor.

Maio é o mês da MÃE.

Não pode haver apenas um dia da MÃE.

MÃE é todos os dias, a todas as horas.

MÃE é Amor.

E por isso, neste mês de amor puro perguntei à Vanessa se me queria responder a algumas perguntas.

A Vanessa é provavelmente das pessoas que mais admiro no mundo.

É alguém que entra todos os dias nos meus pensamentos.

É alguém que desejo tudo de bom todos os dias.

É alguém que me ensinou e ensina todos os dias a ser uma pessoa melhor.

A Vanessa é Amor.

Puro.

E a Leonor, não podia ser diferente…

Confesso que tenho uma ligação especial à Princesa Coderosa…

Quando, naquele dia de sol, lancei o balão cor-de-rosa ao céu muita coisa na minha vida mudou.

No ano passado, escrevi sobre e para a Leonor neste I’m Feeling Coderosa, mas hoje, falo com a Vanessa, a maior das MÃES. ♥

Leiam estas respostas…

É por causa de pessoas como a Vanessa que eu acredito no poder do AMOR.

VANESSA AFONSO

Para quem não sabe quem tu és e pelo que passaste, gostava que me falasses da viagem que tu e a Nonô fizeram juntas.

Quem sou ? Sou uma Mãe. Uma Mãe que ama profundamente… Uma Mãe que passou pela mais dura das provas para quem é Mãe : A perda de quem se ama mais do que à própria vida. Uma Filha. Apenas isso.

SOU MÃE.

Tive a honra e o privilégio de ter sido escolhida para Mãe da Leonor, uma Menina com uma força de viver e uma luz interior sem tamanho.

Desde muito pequenina, ela sempre teve o condão de conquistar as pessoas pela sua espontaneidade, pelo sorriso fácil, pela capacidade de raciocínio rápido e personalidade forte.

Cada uma dessas características intrínsecas foram durante o seu período de luta pela vida, as suas principais armas.

Esta viagem que pela qual me perguntas, foi o “Prémio de Consolação” que Deus tinha guardado para mim, ao ter presente quais seriam os Seus planos para a Leonor.

Ele, na Sua infinita sabedoria tinha consciência de que eu não estaria preparada para ficar sem a Leonor de um dia para o outro, então, foi meu amigo ao ponto de me permitir ter a Leonor comigo por 15 graciosos e intensos meses.

Durante esse tempo, eu pude viver 24/24 horas todo o Amor que sentíamos uma pela outra de forma arrebatadoramente incondicional.

De outra forma, se as coisas não se tivessem passado como se passaram, eu jamais teria vivido de forma tão sublime cada um dos dias que vivi ao lado da LUZ DA MINHA VIDA.

Pouco houve que não tivéssemos vivido a 2. Desde o momento em que a ouvi chorar acabada de sair de dentro de mim, até ao momento em que a entreguei de volta nas Mãos do Deus que ma confiou como minha.

Eu fui dela. Ela foi minha.

 

Eu, tal como muitas pessoas, assistimos à luta da Nonô, tua e da vossa família sentados na primeira fila, mas não estivemos lá. Conta-me o que era o dia-a-dia? Como gerias essa dor, angústia e medo do desconhecido?

Vivendo dia a dia. ACREDITANDO SEMPRE que os milagres existem, acontecem e que a Nonô poderia muito bem ser um deles.

Seguimos os nossos dias acreditando que se aquela era a nossa luta a iríamos enfrentar de cabeça erguida e sem baixar os braços um só momento que fosse.

Continuei a educar a Nonô como se ela fosse viver para todo o meu sempre.

Tinha as tarefas dela, tinha as regras que tinha que cumprir e nunca em momento algum deixámos que a doença se sobrepusesse aos princípios de vida sobre os quais nos regemos : Respeito, Educação, Amor e Tempo de Qualidade em Família. A Doença jamais ditou o que seríamos. O que ela seria. Ou como ela dizia sempre “Eu não estou doente ! Eu só estou careca!”

A dor, a angústia e o medo, perdem assim razão de existir.

Olhando para as coisas como parte de um caminho que temos que percorrer para chegarmos onde queremos chegar, a dor é substituída pelo SENTIDO DE MISSÃO, a angustia pela ESPERANÇA, e o medo completamente sobreposto pela FÉ de que tudo vai correr bem.

VANESSA AFONSO 2

O que aprendeste nesta viagem? O que de mais precioso a tua Nonô te deixou?

Tanto… Tanta coisa…

De tudo o que mais me marcou e que vou guardar para sempre foi a forma como a minha Filha me amou. Nunca tinha antes conhecido Amor igual… tão INCONDICIONAL.

A Nonô deixou-me tão cheia de Amor. A transbordar. Todos os dias (ainda hoje), ela arranjava forma de me dar a sentir o quanto me amava.

A constante preocupação dela para comigo, os beijos, a necessidade permanente de me saber por perto, mesmo que pudesse estar longe. As doces palavras… “Amo a ti Mamy ! És a minha Mamy preferida !

Com a Nonô aprendi que é possível Amar para além da vida. Amar com a Alma. Amar sem medida ou condição.

 

Quando decidi que iria fazer entrevistas aqui no blogue, queria que o objectivo central das mesmas fosse que as pessoas escolhidas seriam pessoas para inspirar outras que possam neste momento estar no fundo do túnel, sem luz, nem esperança. E por isso, no dia do funeral da Nonô olhei para ti e pensei: “E agora, como se vive depois disto?”. E hoje pergunto-te isso mesmo, Vanessa. Como sobreviveste depois disso tudo?

SOBREVIVO. Não sobra outra hipótese. Todos os dias nasce um novo dia e com ele a consciência de que enquanto não chegar a nossa hora, ele se vão continuar a suceder uns aos outros. Temos então duas hipóteses : Ou nos deixamos amargurar e tomar pela dor OU procuramos um propósito para a nossa vida.

Das coisas que mais faziam a Nonô ficar fora de si, era ver-me triste.

A única vez que a minha Filha se zangou comigo foi por saber que eu chorava incessantemente, nos seus últimos dias e ela não o querer.

Quem seria eu se depois de ver a minha Filha lutar como uma Leoa pela sua vida, até ao seu último minuto, se deitasse fora a que ainda tenho por viver? Que exemplo estaria eu a dar-lhe? O que pensaria ela de mim, depois de me provar com o seu exemplo que DESISTIR JAMAIS SERÁ OPÇÃO?

Os meus dias nunca mais voltaram a ser iguais nem nunca mais voltei a encarar os problemas ou desafios do dia a dia da mesma forma mas de uma coisa eu tenho certeza : Até que ela me venha buscar, todos os dias irei dar tudo de mim para que ela se orgulhe da Mãe que tem.

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Criaste a APLAS, falam-me do trabalho que a tua Associação e os Aprendizes fazem.

Muitas vezes nos perguntam o que fazemos na APLAS.

TUDO. Tudo o que for necessário para ver estas crianças felizes.

Percebi durante o percurso que fiz com a Leonor e com o que tenho feito com outras crianças que ainda não estamos perto sequer de compreender esta doença no seu todo. Na sua génese.

Por essa razão, entreguei nas mãos dos Médicos e de Deus, o trabalho que há a ser feito em torno do que da sua cura diz respeito e foquei-me em fazer com que cada uma delas seja O MAIS FELIZ que eu conseguir, durante cada dia da sua vida.

Fazê-los felizes implica proporcionar-lhes bem estar. Permitir-lhes e ajudá-los a dar asas aos seus sonhos. Promover momentos especiais e experiências únicas.

Tanto podemos levá-los à Disney, como suportar as despesas com o seu Desporto preferido, como oferecer-lhes o brinquedo há muito sonhado, levá-los a passear e até o acesso a outras experiências complementares e enriquecedoras, como as nossas Terapias Assistidas com Animais, calça-los ou vesti-los com as suas roupas preferidas, levá-los ao outro lado do Mundo para pedir 2ª opinião a especialistas no seu tipo de patologia…

Fazê-los felizes significa também, fazermos felizes aqueles que eles amam e isso passa então por procurarmos aliviar a carga dos que precisam estar tranquilos e reconfortados para que prossigam com a missão de os acompanhar : A sua Família.

Suportar despesas com irmãos, providenciar cabazes de alimentos, suportar despesas de 1ª necessidade da casa podendo chegar ao ponto de edificarmos de raiz, um lar para que possa toda a Família desfrutar das condições a que todas as Famílias deveriam poder ter acesso, dentro de suas casas (estamos agora a terminar a 4ª casa para a 4ª Família que nos pediu ajuda), oferecer a carta de condução a uma Mãe que não tenha como se deslocar sozinha para tratamentos com os seus filhos… O QUE FOR PRECISO FAZER.

 

Agora, se me permitires, deixa-me tocar-te mesmo no coraçãozinho. Como te sentes quando tens em braços uma história parecida com a tua? Com um menino com um olhar como o da Nonô? Com uma menina que também te diga que gosta de Princesas e de Coderosa?

Sinto-me FELIZ por saber que posso ajudar a fazer a diferença nas suas vidas… Sinto-me duas vezes mais motivada para conseguir chegar a cada uma deles/as por forma a dar-lhes a eles, tudo aquilo que fiz por dar à minha Filha… Cada um deles é um bocadinho dela também…

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Como são aqueles dias onde as saudades são maiores que tudo? Como fazes para driblar essa dor?

Nada. Não fujo dela. A dor é real e engana-se quem acha que pode ignorá-la.

Nesses dias limito-me a permitir-me SENTIR tudo aquilo que a minha emoção me estiver a pedir para sentir. Se tiver que chorar, choro. Se tiver que não me levantar da cama, não levanto.

O importante é saber que a DOR é real mas o SOFRIMENTO, esse é opcional.

Permitirmo-nos sentir as nossas emoções não só não é errado como é absolutamente necessário. Deixarmo-nos consumir por essa dor ao ponto disso nos magoar e fazer sofrer, isso é o que não nos podemos permitir.

A amargura corrói. Destrói-nos por dentro. Se não tivermos mão no nosso coração, ele poderá levar-nos a caminhos de onde depois corremos o risco de já não saber/conseguir de lá voltar.

O segredo está em não deixar o desequilíbrio tomar conta de nós.

O segredo passa por nos deixarmos inundar pelo Amor das coisas boas vividas e tê-las para nós como uma bênção que nos foi permitida.

Se encararmos tudo o que vivemos com olhos de Amor, se ACEITARMOS que há coisas que não dependem de nós e que nós não podemos mudar, fica mais fácil agarrarmo-nos então ao que de bom vivemos.

 

Como consegues manter o foco e continuar? Como consegues aplicar na tua vida o: “Cala-te e rema?”

Fazendo exactamente aquilo que acabei de partilhar na pergunta anterior. Aceitando que há coisas que eu controlo e outras sobre as quais não tenho qualquer poder de influência.

Agarrando-me àquelas que consigo mudar, como se a vida dependesse disso e olhando para as que não tenho como interferir, com coração de ACEITAÇÃO, apaziguando a minha mente e canalizando as minhas energias para onde elas fazem falta.   “CALA-TE E REMA !”

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Se a vida acabasse aqui, se a vida terrena fosse a única que existe, como tinhas encarado o fim?

Confesso que viver debaixo de uma Fé que me permite acreditar que estamos aqui somente de passagem me é muito reconfortante. Confesso que não sei se me sentiria tão em paz, se não tivesse a certeza de que eu e a Nonô vamos voltar a estar juntas.

Não sei. Provavelmente continuaria a “calar e remar”, dando o melhor de mim todos os dias…

 

Na minha rubrica do Cancro, já tive algumas mães que perderam filhos a comentar e a enviarem e-mails, gostava que deixasses aqui uma mensagem para todas as Mães e Pais que perdem um filho como tu perdeste.

A vida é composta por um emaranhado de imprevistos que muitas vezes nos fazem cair e sentir sem forças para nos voltarmos a reerguer.

Ao perdermos um Filho, sentimos que nos retiraram a única razão pela qual respiramos.

Continuar no caminho transforma-se no maior desafio de força que a vida nos coloca.

Não é fácil. É como diria Miguel Esteves Cardoso, uma Merda.

Contudo, há algo que nem a vida nem ninguém alguma vez nos poderá tirar : Tudo aquilo que vivemos, longo ou curto, ao lado daqueles que são e serão para sempre a melhor parte de nós.

Isso, é nosso. SÓ NOSSO e jamais nos poderá ser roubado.

Se nada mais houvesse, a certeza de que no tempo que estivemos juntos, os nossos Filhos foram as crianças mais amadas, mais desejadas e mais felizes, deverá fazer-nos sentir que nada foi em vão.

No caminho da vida mais importante do que a nossa dor, são as marcas de felicidade suprema com que cada dia a seu lado, foi vivido.

Para um Pai e uma Mãe, vivam eles 1 ou 100 anos, é tudo o que importa.

Saber que estivemos à altura da Missão que nos foi confiada.

Deus sabe que estivemos à altura.

Mesmo para os que não crêem, saibam que Ele sabe que estivemos à altura.

Fiquemos em Paz.

VANESSA AFONSO 3

OBRIGADA Vanessa.

És AMOR, és ENORME!

 

Contactos APLAS

Facebook – Aprendizes da Princesa Leonor Aceita e Sorri

Telefone: 309 711 560

E-mail: [email protected]

 

Créditos Fotografias: Tânia Afonso

7 Replies to “Entrevista: Vanessa Afonso”

  1. Que linda entrevista. De parar pra refletir em muitas coisas. 🙂

    1. Sim… inspira de verdade!

  2. Gloria Camoes says: Responder

    eu li o livro da Princesa Nonô ,o que o Pai dela escreveu ,tocou-me imensamente ,e fez-me chorar ,
    Pois também sou Mãe e Avó , eu li o livro todo ,e penso ,ou tenho quase a certeza que a Nonô nasceu
    para passar uma mensagem ,acredito que tenha sido um Anjo enviado por DEUS ,para nos mostrar
    que mesmo sofrendo ,a Nonô sorria ,,li também o livro que a Mãe da Nonô escreveu ,é lindo ,muito
    comovente , , ainda não li esta entrevista toda ,mas vou ter que a ler toda ,,
    ——a história da Nonô toca-nos intensamente o coração

    1. Concordo consigo, a Leonor tinha e tem uma GRANDE missão.
      Obrigada pela visita aqui no blogue.
      Beijinho!

  3. ola e uma historia muito comovente tocou-me no meu coraçao q tambem passei por essa dor de mae com meu filho aos 13 anos com essa doença , mas hoje tem 29 anos graças a deus e aos medicos ,mas vivo aos sobe-saltos gostaria de comprar o livro a princesa nono onde tem a venda beijinhos

    1. Ainda bem que tudo correu bem!
      Já enviei o seu endereço de email para a Aplas, irá ser contactada para comprar o livro.
      Beijinhos

    2. Maria, o email que deixou está a dar erro, pedia-lhe que contactasse a APLAS através deste email: [email protected] que elas explicam como pode adquirir o livro.
      Beijinhos!

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