Pensei muito se haveria de escrever este post ou não.
Não por ser um tema polémico, mas por ser um tema.
Ainda se fala nisto com estranheza, preconceito e ignorância.
E isso chateia verdadeiramente.
Já por várias vezes manifestei aqui no blog a minha opinião sobre alguns temas que são alvo de preconceito, como o racismo, homofobia, xenofobia…
Hoje venho falar de um amigo meu, aliás, estou a escrever este post com ele ao meu lado.
O Hugo!
Arquitecto, filho de um médico que exerce em Londres e de uma mãe que tem uma galeria de arte e é pintora. Irmão de uma excelente bailarina.
Teve sempre notas muito boas e acabou o curso a estagiar num grande gabinete de arquitectura. Assinou vários projectos conhecidos.
Mora em Lisboa, tem 38 anos, tem dois cães, vai ao ginásio todos os dias, adora sushi, viaja muito e lê cerca de 2 a 3 livros por mês.
Tem uma namorada linda, daquelas de fazer parar o trânsito.
E, para além disto, o Hugo é um homem transgénero.
E agora?
E agora nada!
E agora vamos parar de ser preconceituosos!
No outro dia, finalmente, tive coragem de ter uma conversa sem merdas com o Hugo e perguntar tudo o que sempre quis saber.
E fiquei esmagada por dentro.
Fiquei e não consigo disfarçar o quão incomodada fiquei.
Porque ainda me custa muito a entender porque as pessoas são tão ignorantes que se tornam terrivelmente más.
Será que já imaginaram o quão doloroso é este processo?
O quão agressivo psicologicamente?
A quantidade das operações?
Os olhares?
Os documentos?
O nome?
A família?
Será que ao invés de lhes chamarem aberrações pensaram na dimensão de um processo destes?!
Colocaram-se nos sapatos deles?
CHEGA!
Chega de acharem que tem direito de aceitarem as pessoas como se fossem coisas.
Parem de se acharem “normais” e os outros é que não.
O normal é o quê?!
Se não sabem o que significa ser transgénero, transexual, homossexual, travesti ou cisgénero pesquisem, informem-se e parem que criticar e desprezar.
Quero apenas dizer que há duas coisas que são muito diferentes, a identidade de género é uma coisa e a orientação sexual é outra!
E tantas vezes são postas no mesmo saco ou como sendo a mesma coisa.
Mas não são!
Sabem o que é já ter a aparência de homem e ser chamado numa sala de espera de médico, como “Maria”?
Imaginam a humilhação?
Ou a dificuldade de viajar porque no aeroporto com a diferença das fotografias e nome nos documentos para a aparência física actual dava sempre problemas.
Durante a fase de transição os olhares, os comentários:
“Um dia ainda te vais arrepender…”
“Que pena, eras uma menina tão bonita…”
Ou irem ter com os vossos pais quase a darem força, como se o filho estivesse doente e a morrer.
Ou isso ser assunto numa reunião de condomínio, como se estivesse a avisar que a moradora do 3 frente agora é um homem.
É tão surreal que parece mentira, mas infelizmente não é!
É isto e muito mais que, por ser tão mau, decidi não partilhar.
Só peço a todos que se informem e que se ponham nos sapatos das pessoas que têm um processo deste pela frente.
E peço ainda que parem de dizer:
“Eu aceito…”
Não estamos a falar de coisas, mas de PESSOAS.
Respeito, é disto que se trata!
Como diz Pabllo Vittar:
“Está na hora de transformar o preconceito em respeito”.
Obrigada Hugo, por confiares em mim, por me deixares partilhar de ti aqui no blog e, sobretudo, por me ensinares tanto.
♥
Créditos da fotografia: Chris Barbalis
Como bem referes, estas são a atitudes ” normais ” do bicho homem quando deparado com algo que a sua mente nao preparada tem reações destas, mas essas reações por vezes apenas servem para esconder algo que elas mesmo querem esconder.
Quem não tem telhados de vidro ?
Bonito artigo
É verdade, as pessoas às vezes repugnam para se esconder, para esconder as suas próprias vontades. Mas cada um merece respeito, independentemente se concordamos ou não com o processo. É a vida de cada um.
Como disse em cima:
“Está na hora de transformar o preconceito em respeito”.
Beijinhos!
Obrigada pelo comentário.
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