Deixei de querer atropelar o tempo, desde que percebi que isso não funciona.
Não sou de aparências e até confesso que sou lenta a digerir alguns assuntos.
E que alguns desses temas só acabo por aceitar, porque não tenho outro remédio.
Mesmo tendo perdido tantas pessoas de quem gostei muito na vida, ainda não me habituei a essa grande merda que é perder alguém que gostamos muito.
Alguém que faz parte da nossa vida, alguém que partilha amor comigo.
Alguém que entrou para não sair. E que saiu de repente.
Porém, não há nada a fazer! A vida é assim mesmo.
Cada um gere as perdas à sua maneira e não há certo nem errado.
Não há uma fórmula mágica de conseguir aceitar de animo leve.
Eu, então, sofro pelas entranhas. Sofro por dentro como se tivesse em carne viva.
Hoje vou disfarçar que já “aceito” melhor e que não tento procurar porquês.
Hoje vou passar o dia a lembrar-me apenas dos nossos bons e loucos momentos.
Hoje vou lembrar-me do teu blazer preto que voou no Bairro Alto quando tentamos dançar o tango e que nos correu tão mal!
Ou das nossas noites no Lux, onde eu fazia de António, um transexual artista nascido no Luxemburgo.
Ou das noites que não posso descrever aqui no Frágil! Foi no Frágil que me disseste que sempre quiseste arrancar um fio do pescoço de alguém.
E eu só disse: força! E de repente o chão ficou cheio de bolas amarelas… rimos tanto!
Ou de todos os guiões que desenhamos para filmes do Pedro Almodóvar!
Ou de quando eu encarnava na Amélie Poulain que tanto me chamavas e dava asas ao meu infeliz francês e mantínhamos uma conversa completamente disléxica e no sense!
E o pior é que éramos capazes de estar horas nisso!
Era capaz de estar dias a escrever esses momentos que passamos!
Estes e outros, diferentes, mas sempre tão bons.
Sempre que penso no sítio onde estás, fica um vazio na minha cabeça.
Eu não sei como isso funciona… Se existe mesmo. Se é bonito.
Se tem muita luz. Se continuas a pintar. A rir… Não sei!
Mas faço um esforço magnânimo para acreditar que, por algum motivo muito especial já não estas aqui.
E que estás bem. Em paz. A tomar conta desta malta toda que sente a tua falta.
E somos tantos a sentir a tua falta! A tua gargalhada. O teu cheiro. O teu olhar.
São 2 anos. 2 anos. A vida continuou. Mas continuou diferente. De outra forma.
Mas as tulipas brancas, serão sempre tuas.
♥
Eu sei por saber.
Que sabes o teu lugar.
Eu sei.
Tu sabes.
♥
I’m Feelings
Créditos da fotografia: Mladen Milinovic