As batas brancas…

Conheço bem o SNS (Sistema Nacional de Saúde), talvez até bem demais.

Não porque trabalhei lá, mas porque a vida quis que já lá passasse tantas horas como se tivesse um part time prolongado!

Conheço as necessidades, os cortes, as pessoas, o cheiro.

Houve alturas em que até sabia aquilo que não queria saber.

Actualmente continuo a ser seguida no SNS, mas faço algumas consultas no privado.

E as diferenças não são poucas. São abismais.

Ou seja, no que trata a recurso humano, não muda muito porque as pessoas são iguais em todo o lado. Os médicos são iguais em todo o lado. A partir do momento que vestem a bata sobem um degrau (não generalizo, porque felizmente já tive médicos excepcionais que não tinham esta soberba, talvez adquirida por uma questão cultural ou por lhes ser pedido notas altíssimas para entrarem num curso exigente, mas que depois não se lembram de fazer um teste de vocação, ou porque é “normal” ter uma relação quase paternal com os médicos e pedir desculpa por tudo e agradecer por mais ainda).

(lembro-me de ter conhecido um médico alemão que ficou chocado quando soube que cá não se fazem testes de vocação…)

Então mas no privado as diferenças que eu vejo são:

Há sempre água nos bebedouros espalhados pelo hospital/clínica.

O telefone toca e alguém atende.

Há sempre papel higiénico nos WC.

Não há tanta gente aos gritos.

As fardas dos administrativos tem menos ou nenhumas nódoas e são modernas ao invés das batas do público, que parece que já sobreviveram à II Guerra Mundial.

As salas de espera têm sofás confortáveis em vez de cadeiras duras e velhas que rangem por todo o lado.

As salas são climatizadas… uauuuh!

As televisões estão ligadas e funcionam. Viva ao Goucha!

A decoração existe… plantas, vasos… existem!

As marcações de exames e consultas são céleres.

Estacionamento próprio.

As instalações são modernas e a maquinaria funciona.

Os funcionários quando são abordados não respondem com: “Estou ocupado não posso.”

Agora pergunto eu:

É para isto que pagamos o privado?

Desconfio que sim.

É que na verdade tudo o resto não muda muito:

Os médicos continuam a levar 1h a tomar o pequeno-almoço com clientes (sim aqui somos clientes) à espera. Ou têm todos muita fome. Ou têm todos uns relógios comprados no Martim Moniz a precisar de pilha. Ou têm todos uma lata do caraças e muito pouco respeito!

Tanto faz se for no público ou no privado, os médicos continuam a achar que têm o direito de se atrasarem e nem pensar pedir desculpa, ou ainda, ter que responder a perguntas… mas há quem as faça!

Eu!

 

“Bom dia, como se sente?”

“Bom dia! Eu bem. Apenas não me estava a apetecer ter esperado tanto pela consulta.”

“Hummm” (ele com ar arrogante)

“É que tive azar…” (eu com ar ainda mais arrogante)

“Então?” (pergunta ele com ar de quem pensa que vem aí uma história qualquer)

“É que cheguei na hora da consulta, que curiosamente coincide com a hora que o senhor decidiu ir tomar o pequeno-almoço…” (toma lá e embrulha)

“Pois, entendo, mas também nós temos que comer sabe…” (a lata deste gajo)

“Então olhe aguente aí, que vou lá abaixo enfardar uma tosta mista e um galão, okkk??”

(pois… a bitola já não é a mesma…)

 

Naturalmente não fui!

Mas também não me calei.

Não admito que o façam e ainda lhe agradeça por isso.

O meu tempo é tão precioso como o dele.

Mas fiquei a pensar no assunto:

Se eu deixar um cliente meu à espera 1h e for tomar o pequeno-almoço será que ele espera?

Ou será que se ele marcar uma reunião comigo as 10h e eu chegar perto das 11h e nem pedir desculpas ele ainda quer reunir comigo?

Eu tenho sérias dúvidas disso.

Não fosse a estar este calor, eu vestia aquela bata branca e levava para o trabalho! Podia ser que pegasse!

Porque por muito respeito que tenha aos médicos (e tenho mesmo), tenho igualmente por padeiros, costureiras, músicos, e todas as profissões e pessoas no geral e daí não achar muito normal a falta de respeito que se tem com as pessoas que, no limite, lhe pagam o ordenado é too much!

 

Agora repito:

Isto não se aplica a todos os médicos, mas como eu tudo na vida, a maioria pesa muito. E ainda que eu tenha a sorte de ter médicos espectaculares e dedicados não deveria considerar sorte. Todos deviam ser excelentes profissionais. A frase “tive sorte com o médico” não deviam existir se todos fossem profissionais exemplares, mas falamos de pessoas. E pessoas, sejam elas médicos, pedreiros ou estudantes, são pessoas.

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