Documentário | Paula Rego: Histórias e Segredos

Normalmente não consigo dormir no avião e ocupo o tempo livre com tudo o que posso, dando sempre preferência a ver filmes, documentários ou concertos.

E foi num voo longo que vi este documentário sobre a vida da Paula Rego.

Confesso que para além de conhecer alguns (longe de ser todos) quadros dela, pouco ou nada sabia da sua vida.

É um relato muito cru feito na primeira pessoa e realizado pelo filho (Nick Willing).

Paula Rego não tem medo das palavras e usa todas as que lhe vai na alma.

Conta cronologicamente como foi a sua vida desde cedo, as relações familiares, os amores e a sua principal paixão – a arte.

Paula é uma daquelas artistas que vemos retratadas nos filmes. Daquele tipo de artistas que Portugal pouco conhece. Os artistas loucos (falo da loucura do mundo artístico) na sua maior dimensão, no seu mundo à parte.

Apesar de ser conhecida por ser muito ciosa da sua privacidade, a pintora portuguesa abre o seu mundo, a sua verdade sem qualquer pudor ao próprio filho.

Maria Paula Figueiroa Rego – Paula Rego – nasceu em 1935 em Lisboa. Desde muito cedo revelou ter um grande talento para as artes e foi incentivada pelo seu pai a estudar em Londres na Slade School of Fine Art.

Foi nesta escola que conheceu o pintor Victor Willing (1928-1988), com quem casou e teve três filhos, Victoria, Caroline e Nick Willing (o realizador deste filme).

Viveu uma vida intensa e fala na sua luta contra o fascismo, na sua depressão que a afecta desde nova e que afectou a vida familiar e a relação com os filhos e do mundo da arte misógino.

O mais incrível neste documentário é ser um filho ao mesmo tempo realizador, interlocutor e primeiro destinatário, que filma a mãe talentosa e célebre a revelar-lhe coisas que de outro modo não viriam a público, quer da vida artística como da vida intima, onde conta pormenores tão crus como casos extraconjugais, abortos que fez, dificuldades financeiras que levaram à venda da paradisíaca quinta familiar da Ericeira, do casamento complicado que viveu, da doença e da morte de Victor e de como esta marcou a sua criatividade

Paula Rego partilha também neste documentário o que a levou a pintar alguns quadros, a inspiração do momento e os limites da sua criatividade.

E também a sua dor, visto que vários quadros evocam e contam histórias pessoais e autobiográficas.

É incrível ver Paula Rego a pintar e a usar de vários adereços no seu estúdio em Londres.

Se para mim foi por várias vezes motivo de fazer um “pause” para respirar (força de expressão) ou até de sentir um murro no estômago, imagino para o filho.

Seguramente que passou a conhecer muito melhor a sua mãe que fez deste documentário uma espécie de divã, daqueles onde os pacientes se deitam e exorcizam os próprios fantasmas.

Por outro lado, apresentou-nos de uma forma única uma das melhores artistas portuguesas.

Indo mais longe, é também uma forma de se viajar pela cabeça de um artista, pelo seu mundo paralelo ao nosso, a vida elitista por um lado, e os fantasmas por outro.

Gostei tanto deste documentário e agora compreendo muito melhor as suas obras e a respectiva dimensão, sinto que consigo ter uma percepção muito mais alinhada à realidade de quem a criou.

Apetecia-me ganhar o Euromilhões para comprar as obras todas dela e entender cada traço que desenhou!

Fica aqui o trailer deste brilhante documentário:

 

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Maria Amélia ícone
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